ZUILA CARVALHO RADIOWEB

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O que teria salvado Amy Winehouse?

Foi meio deprimente o que vi no show da Amy em São Paulo. Não por ela, confesso. Eu senti pena foi do público. Amy errava a letra e o povo adorava. Cada passo em falso, cambaleante, era motivo de brinde. 

Gritavam coisas como “bêbada!” e “louca” – perdoem a minha memória –, como se fosse o máximo assistir à decadência do ídolo. Ídolo? Acho que não. Amy era só mais um fenômeno pop bizarro para a maioria daquela gente.

Tanto fazia se ela cantava ou não. O importante era ver a moça a ponto de cair de tão louca. Não existe uma incoerência quando uma figura triste como Amy causa euforia? E como uma sociedade com esses valores pode vir falar em internação compulsória? Deixa eu ver se entendi. 

Quem é rico, artista, famoso e influente pode se entupir de drogas e tudo bem. Não será perturbado, continuará no conforto do lar e será motivo de festa. Já quem é pobre e mora na cracolândia pode ser internado. Afinal, quem é que se importa com aquela gente? Além disso, ninguém quer ser assaltado por “aqueles viciados”.

No caso de quem mora na rua, não seria melhor cuidar dessas pessoas de verdade? No caso de Amy, seriam meses de tratamento em troca de quê? Shows corretos, nenhum escândalo, um casamento com um homem de bem? Seria quase como retirar dela toda a subjetividade. Fazer escolhas por ela, uma violência só comparável à violência implícita no ato de retirar alguém – à força – do convívio social.
 
E se Amy não quisesse ajuda? (E ela, aparentemente, não queria. A canção Rehab está aí para provar). E se Amy estivesse cansada e quisesse mesmo morrer (presumindo que quem abusa de tóxicos sabe que pode morrer)? Temos o direito de tirar esse direito dela?
Eu (sensível, confesso) 

só queria que, naquele show, a moça frágil engrenasse, que ela provasse para ela mesma que ainda conseguia fazer aquilo. Que não fosse motivo de chacota, nem precisasse ser amparada pelos músicos de sua banda. Eu queria que ela não tivesse morrido sozinha, aos 27 anos, em casa. Mas quem é que consegue escolher pelo outro?

Fonte:Epoca.Globo

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