ZUILA CARVALHO RADIOWEB

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As mulheres são menos competitivas do que os homens?

É comum ouvirmos que as mulheres são menos competitivas que os homens. Que elas não estão dispostas a entrar em disputas acirradas e que acabam desistindo quando o cargo exige cumprir metas rígidas e enfrentar a comparação direta com colegas de trabalho.

Essa falta de gosto das mulheres pela competição – que poderia lhes render melhores cargos e salários – seria uma das razões para a baixa proporção delas  nos cargos de comando.

Em geral, os estudos acadêmicos mostram que isso é verdade: as mulheres gostam menos de competir que os homens. Mas uma pesquisa do National Bureau of Economic Research dos Estados Unidos divulgada na semana passada mostra que essa é uma conclusão muito simplista.

As pesquisadoras Muriel Niederle e Lise Vesterlund fizeram uma série de experimentos para entender melhor o comportamento de homens e mulheres diante da competição. As duas convocaram 80 pessoas – 40 homens e 40 mulheres – que, divididos em grupos com quatro pessoas, respondiam a questões de matemática.

No primeiro teste da série, a premiação era para o resultado do grupo, sem estimular a competição. No segundo, o integrante do grupo que acertasse o maior número de questões ganhava todo o prêmio. E, no terceiro, as pessoas podiam escolher se queriam uma remuneração baseada na cooperação ou na competição.

Embora homens e mulheres tenham tido um desempenho semelhante nas provas, quando puderam decidir o sistema de pagamento da tarefa, os homens preferiram o do tudo ou nada: 75% deles escolheram a competição, contra 35% das mulheres.

E mesmo entre as mulheres com o melhor desempenho – ou seja, aquelas que seriam beneficiadas pelo sistema de torneio -, a competição foi menos popular. É interessante notar, segundo as pesquisadoras, que, entre os homens, mesmo aqueles com desempenho pior o votavam pelo tudo ou nada – contrariando o seu próprio interesse.

Uma possível explicação dos resultados da pesquisa é que as mulheres são menos competitivas. Outra, menos óbvia, é que os homens confiam mais do que deveriam no próprio taco. Segundo o estudo, 75% dos homens achavam que iam ganhar o prêmio total ao acertar mais perguntas do que seus colegas de grupo. Ora, como cada grupo tinha quatro pessoas e só um podia ganhar (25%), a confiança masculina estava claramente inflacionada.

Mas o que estaria por trás dessa diferença entre homens e mulheres com relação à competição? Para o economista John List, da Universidade de Michigan, a quem entrevistei no ano passado, a cultura é o fator determinante para essa discrepância de comportamento. O que a sociedade espera de homens e mulheres desde a infância acaba aumentando as chances de entrar ou não na competição.

No caso das nossa sociedade ocidental e patriarcal, por exemplo, dos homens se espera força, ousadia, enfrentamento. E da mulher, delicadeza, gentileza, conciliação.
É uma visão estereotipada? Certamente! Mas quem disse que os estereótipos não são importantes? Eles balizam o nosso comportamento. 

O pesquisador John List afirma que nas sociedades matriarcais que ele estudou na África os estereótipos são justamente opostos: as mulheres entram mais na competição do que os homens. As expectativas são exatamente o contrário do que temos por aqui. Ou seja: não há nenhuma razão biológica ou ligada à maternidade para as mulheres fugirem da disputa. O motivo é outro: cultural.

Cultura não é algo que se mude assim, do dia para a noite. Mas vale, sim, tentar entender e discutir. Depois de ler esse estudo, concluo que, como na maioria dos casos, nós, mulheres, poderíamos aprender um pouco com eles e entrar mais na competição – mesmo que seja para perder. E os homens poderiam aprender um pouco conosco – e abrir mão da disputa quando a cooperação for um melhor negócio.
Fonte: Epoca.Globo
Site:http://colunas.epoca.globo.com

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